A física de Aristóteles: uma construção ingênua?
- 10kaiobruno
- 30 de ago. de 2015
- 4 min de leitura

O conhecimento da história da física é de suma importância para a formação dos professores que lecionarão essa ciência. A influência da civilização grega foi de grande relevância para o desenvolvimento da ciência no modo geral, entre os grandes filósofos gregos temos Aristóteles. A física desenvolvida por ele foi uma construção teórica complexa, profundamente integrada a um pensamento filosófico extremamente abrangente e elaborada a partir dos elementos empíricos fornecidos pela vivência humana mais imediata. Suas explicações perduraram por cerca de dezoitos séculos.
Muitos alunos de física saem do ensino superior sem entender de fato as idéias de Aristóteles, pois lhe são mostrados uma abordagem simplória de suas idéias sendo que elas têm um pensamento lógico desenvolvido. A história da ciência vai muito além de conhecer a bibliografia dos grandes cientistas, mas é de suma importância que o aluno conheça como determinado pensador chegou às conclusões para desenvolver suas teorias.
A metafísica aristotélica se baseava no conceito de ser. Este conceito de ser estava presente na filosofia grega, pois segundo eles, todo pensamento, antes de mais nada, se refere a alguma coisa. Por mais que essas coisas obtenham formas distintas está à idéia de que elas são algo. Um dos problemas enfrentados pelos gregos foi acerca do movimento, todavia esse movimento ia muito além da simples idéia de deslocamento, eles tentavam entender as possíveis mudanças e transformações do ser. Duas escolas de pensamento surgiram para explicar este problema, a escola heraclitiana defendia a natureza perpetuamente mudável da realidade (inexistência de ser dotado de atributos de fixidez), a escola eleática, o ser permanece sempre idêntico, o movimento é apenas uma ilusão.
Para resolver a problemática do ser, Aristóteles desenvolveu o conceito de ser em potência e ser em ato. As noções de ser em potência e ser em ato conferem ao conceito de ser uma natureza dinâmica, pois existe no ser uma função de causalidade, definido por sua essência (ser em potência), que determinará sua evolução (ser em ato). Com isso, Aristóteles concluiu que todo ser sensível é formado pela composição de matéria e forma, sendo que a matéria constitui um elemento de potência. O mundo em que vivemos é um mundo corruptível, pois ele é sujeito a mudanças (corruptibilidade do ser), mas os corpos celestes são imutáveis em sua natureza (incorruptibilidade do ser), essa era a idéia proposta por Aristóteles e sua explicação para o conceito de ser foi utilizado para estabelecer seus conceitos físicos de movimento e do Universo.
Aristóteles baseou-se no princípio quaternário (terra, água, ar e fogo) para explicar as mudanças ocorridas no ambiente terrestre, mas para o mundo celeste ele introduziu outro elemento denominado éter ou quintessência. Isso se deu, pois para ele havia dois tipos de substâncias sensíveis, as celestiais que eram formadas por matéria incorruptível, e as terrestres, sujeitas a processos de geração, transformação e corrupção.
O movimento na concepção de Aristóteles tem uma característica de mudança, uma passagem daquilo que está em “potência” para o “ato”, para que isso ocorra, ele identifica quatro modalidades: nascimento (geração) e destruição (corrupção), mudança de qualidades (alteração), mudanças de tamanho (crescimento ou diminuição) e deslocamentos (movimentos locais). Para ele todo movimento possui uma causa, sendo assim existem quatro causas: formal, material, eficiente e final. Todos esses tipos de causas estão envolvidos na determinação do ser e de sua evolução. Essas concepções finalística dos movimentos desempenham um papel fundamental na cosmologia e na física aristotélicas.
Para Aristóteles a idéia do vácuo era contraditória e absurda, ele também rejeitava a idéia de um infinito, não em potencial, mas atualmente existente. O Cosmo na visão aristotélica era finito dividido em dois mundos (terrestre e celeste) e sua mecânica era baseada no modelo das esferas cristalinas, proposto por Eudoxo.
Segundo Aristóteles, os corpos uma vez deslocados do seu local natural tendem espontaneamente a retornar a ele, realizando movimentos chamados de naturais, o espaço aristotélico é formado de lugares qualitativamente diferentes, onde cada elemento físico procura o seu lugar que lhe pertence e foge de um outro que lhe opõe. A queda dos corpos sólidos nas proximidades da superfície da Terra é então explicada em termos dessa tendência inerente ao corpo retornar à posição que lhe é própria. Segundo ele, quanto maior o peso do corpo, maior a velocidade de queda.
Em sua teoria do movimento Aristóteles observou que existiam movimentos que não eram conformes a natureza deles. Para que tais movimentos ocorressem era necessária uma força exercida por algum outro corpo, por esse motivo ele denominou este tipo de movimento forçado ou violento. Na ausência dessa força o movimento cessava imediatamente. E como explicar o movimento de subida de objetos lançados, se o próprio Aristóteles negava a ação de uma força a distância? Ele explicou que o agente causador da subida dos corpos era o ar. Todavia esta indagação concernente ao movimento violento da mecânica aristotélica foi refutada por vários estudiosos.
A física aristotélica foi sendo questionada e novas idéias concernentes ao movimento dos corpos surgiram. Nicolau Copérnico e Galileu Galilei introduziram idéias acerca do Universo e do movimento que substituíram aquelas propostas por Aristóteles.Para o estudante de física é de suma importância conhecer como se deu o desenvolvimento da física. Analisando as idéias de Aristóteles vemos a tentativa de explicação do mundo que nos cerca, começando com o conceito vigente na época de ser e elaborando sua teoria na explicação dada para o movimento deste ser, Aristóteles revolucionou o pensamento físico da época, pois suas explicações eram bastante convincentes e abrangentes para a vivência da época. O estudante de graduação deve entender que embora as idéias de Aristóteles tenham sido derrubadas, todavia o método de formulação destas hipóteses é algo que transcende modelos simplórios da época, prova disso é que suas idéias perduraram por cerca de dezoito séculos e ainda hoje elas influenciam o pensamento de muitos.
O texto acima é o resumo do seguinte artigo: http://www.sbfisica.org.br/rbef/pdf/314602.pdf Para mais detalhes basta ler o referido artigo.
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